Manifesto de ruptura da Ar editora com o mercado tradicional do livro

A Ar Editora iniciou suas atividades para atender o autor desamparado das editoras que dominam esse mercado, prestando-lhes serviços de qualidade adequado a custos justos, resultando em livros devidamente publicados, respeitando, assim, o autor e o leitor, indiscriminadamente.

Hoje, a Ar Editora se consolida orgulhosa e eticamente como empresa, já tendo completado 31 meses de atividade desde sua fundação. Nesse período, podemos afirmar que muito conhecimento já tem sido adquirido na prática, observando outras empresas, dialogando com pares e ouvindo.

A prática, observação e diálogo mostrou que empreendimentos como a Ar Editora são os principais entrantes de novos autores brasileiros e a única oportunidade real, para a maioria, de terem seus manuscritos publicados. Logo, pode-se dizer que a Ar Editora tem grande vocação para defender a bibliodiversidade brasileira.

Um divisor de águas, muito por confirmar e racionalizar algumas questões antes percebidas, é a pesquisa de Leonardo Bastos e Denise Fleck “Indústria Editorial de livros no Brasil – Análise panorâmica de seu crescimento”, encomendado pelo SNEL à COPPEAD.

Pontos incômodos e limitadores

Livrarias

Como esclarecido por Bastos e Fleck (COPPEAD, 2014), as livrarias estão com estoques e prateleiras abarrotadas de falsos best-sellers. Há grandes apostas das editoras em sucessos estrangeiros, no entanto volumes de encalhe destes têm sido cada vez maior. Nesse aspecto, é possível destacar que esse fato se dá por um crescimento vertiginoso de novos títulos, pela falta de gestão estratégica, por problemas de controle da logística e pela incapacidade de se adaptar a novas demandas.

Orçamento para a publicação

Os títulos que a Ar Editora têm publicado até o momento são os que os grandes players deste mercado não apostaram. Hoje, a maneira encontrada pela Ar Editora para permitir que esses livros saiam da gaveta e sigam para o mercado é ofertar ao autor um orçamento enxuto para custear a publicação de seu livro. Essa prática gera um projeto com orçamento ínfimo, incapaz de custear a promoção do livro. O resultado, no entanto, é que o livro fica invisível no grande mercado livreiro, sendo encontrado ocasionalmente pela menor parcela de seus potenciais leitores.

Movimentos de ruptura com o tradicional e inovação a favor do novo livro

Atualmente, vivemos em um cenário de cultura e informação muito dinâmicas.  Tudo pode ser publicado, mesmo assim, a grande mídia ainda dita o que terá destaque em seus canais. As pessoas, mesmo as mais humildes, leem e escrevem cada vez mais. Esses dois pontos levantados estão entre as características positivas da grande e rápida evolução que a internet causa em nossa sociedade. Essas mudanças interferem sobremaneira nas dinâmicas de consumo, interação, comunicação e leitura. Sendo assim, percebe-se que se faz necessário criar uma nova dinâmica, capaz de fomentar um novo panorama do mercado editorial. Além disso, é importante quebrar com o paradigma etnocêntrico que se tem observado em relação à autoria de livros, dando, assim, voz a outros atores sociais.

Fonte de recursos

Acreditamos que a sociedade deva ser integrada na seleção de títulos, partindo do questionamento e da prática: “Você investiria neste livro?”. Assim, o processo de construção de nossa bibliodiversidade se tornaria mais democrático e dinâmico.

B2B – De empresa para empresa

Nos dias de hoje, no Brasil, há Leis de incentivo fiscal à cultura, que estão presentes em todas as esferas do poder, assim como os referentes impostos. Ressalta-se que um projeto aprovado por um dos gestores públicos responsáveis de operar a execução de uma Lei de incentivo fiscal à cultura pode trazer benefícios a todos os envolvidos:

– Empresa doadora: Poderá deduzir até 100% do valor investido no projeto cultural de seu imposto devido;

– Empresa proponente: O estado estabelece garantias que zelem pelo interesse de todos, tornando o projeto mais confiável;

– Governo: As empresas (doadora e proponente) fazem parte de seu trabalho, um selecionando e fiscalizando um projeto válido, e o outro executando o projeto;

– População: Tem um retorno direto dos impostos com os quais indiretamente contribui.

Um projeto financiado por uma Lei de incentivo fiscal poderá ter um grande aporte financeiro.

P2P – De pessoa para pessoa

Uma das dinâmicas melhor formatada para esse tipo de patrocínio é o crowdfunding, que é uma consequência da revolução causada pela internet. A proposta base é:

  • O proponente, no caso o autor junto à editora, apresenta um projeto com opções de valores para serem patrocinados e uma referente contrapartida;
  • As pessoas que vierem a se interessar pelo projeto investem por desejarem seu sucesso ou a contrapartida ofertada;
  • Caso se atinja o valor mínimo, este será repassado ao proponente para executar o projeto e entregar as contrapartidas, mas caso o referente valor não seja alcançado, a plataforma se compromete em devolver o valor aos investidores.

Uma das questões mais interessantes é o fato de que fazer uma campanha de crowdfunding bem sucedida promoverá o livro, validando-o no mercado. O valor captado, entretanto, é limitado. Dentre os limitadores estão: a disponibilidade financeira dos investidores, a rede de contato do proponente e a capacidade do projeto de motivar a sociedade.

Do autor

Se o autor acredita na sua obra e opta por financiar a publicação, a Ar Editora continuará apoiando este gesto nobre e corajoso de publicar o próprio livro.

Produção e logística

A Indústria Editorial de Livros no Brasil subutiliza as novas tecnologias para gerir a produção e a disponibilidade de seus livros, dito com base no artigo de Bastos e Fleck (COPPEAD, 2014). A sociedade e o panorama da cultura brasileira estão crescendo e se tornando mais abrangentes e complexos, logo entendemos que a indústria editorial deva se recompor a essa nova realidade. Para tanto, torna-se necessário aproveitar as oportunidades das novas tecnologias.

Distribuição (Impressão e logística)

Hoje, com as novas tecnologias, é possível incluir a gráfica no processo de distribuição do livro. A Ar Editora enxerga essa possibilidade como uma base estratégica para formatar o processo Just in Time do livro. Acreditamos que se é possível imprimir poucos exemplares, ou mesmo um exemplar de um título a custo competitivo, em outras palavras, estocar livros se torna um custo dispensável.

Para tornar essa hipótese válida será preciso ter um controle rápido e preciso da posição de cada exemplar. A base deste conceito é o “Sistema Toyota de produção”, no qual se transfere, frente ao conceito original, o foco de entrega de insumos à linha de produção para o produto ao Ponto De Venda (PDV). Deve-se centralizar a informação de quais gráficas estão aptas a imprimir o título, qual título já está impresso, quantos exemplares, quais posições, qual custo e tempo de sua transferência de um PDV para outro; há quanto tempo o exemplar está parado na referente posição, etc. Espera-se que esta nova abordagem da produção permita que o acesso ao livro seja ampliado, simplifique a gestão comercial de catálogos maiores e que o custo final do livro seja reduzido.

Promoção e venda

Um título de livro não é um produto de massa. Deve-se ter mecanismos para alcançar o nicho de potenciais leitores.

Mídias sociais

Livro é informação, conteúdo, lazer etc, logo é apto a interagir em redes sociais com a  circulação de fragmentos de seu conteúdo e ideias entre seu público alvo. Uma campanha nestas mídias ou mesmo pequenas ações virais sobre o livro poderão potencializar a venda do título em qualquer etapa, da captação de recursos até a venda direta de um exemplar.

Mídias tradicionais

Um limitador para seu uso é a dificuldade de acesso, requerendo um convite ou um alto custo publicitário. São, porém, mídias de grande importância na formação de opinião e divulgação de massa.

Outras maneiras de se consumir um livro

No Brasil, praticam-se, em volume significativo, apenas duas opções: venda em livrarias e empréstimo em bibliotecas. Mais a frente, o tema sobre pontos de venda alternativos será abordado.

  • Locação de livros: processo que se assemelha mais à locação de veículos do que às antigas vídeos-locadoras. O cliente paga uma quantia pelo aluguel do livro e enquanto estiver em posse do bem alugado manterá uma garantia capaz de ressarcir o possível prejuízo com a perda do bem.
  • Clube do livro: trata-se de uma instituição na qual o leitor pode se associar, mas terá de contribuir com uma taxa mensal para ter o direito de tomar livros emprestados.

Livrarias físicas

A livraria física, assim como toda loja física, vem sofrendo uma transformação na sua função social. Vemos que a transformação destas livrarias reorganizará sua atuação comercial para a seguinte lista de prioridades:

  1. Exposição de livros;
  2. Consulta e interação com o catálogo;
  3. Venda de livros;
  4. Estoque;
  5. Suporte à logística;
  6. “Balcão” de suporte ao e-commecer.

Transferir novas incumbências às livrarias poderá ser uma forma de manter a viabilidade financeira destes estabelecimentos.

Pontos de venda alternativos

Os pontos de venda alternativos podem assumir todas as funções de uma livraria física, restringindo-se a sua capacidade operacional, sua aproximação de sua atividade primária à venda de livros e o interesse de seu gestor de assumir os referentes papéis. Alguns exemplos de possíveis pontos de venda alternativos:

  • Banca de jornal.
  • Máquina automática de livros.
  • Displays em restaurantes, cafés, pubs.
  • Stands ou máquinas automáticas em aeroportos, rodoviárias e estações, etc.

Livrarias e-commecer

Percebemos que há futuro para duas formatações de e-livrarias:

  • Grandes magazines populares.
  • Livrarias on-line com temática superespecializada.

As grandes magazines do livro têm o poder de ser em si um produto para a massa de consumidores, mesmo o livro sendo incapaz de atingir esta massa.

Já a livraria superespecializada tem o objetivo de conectar uma determinada temática ao seu referente nicho de leitores interessados. Por exemplo, se existir uma livraria superespecializada em História do Brasil, poderá concentrar historiadores, nacionais e internacionais, que pesquisem História do Brasil, da América Latina e das Américas… Este selo livreiro poderá ser utilizado para promover as publicações nas mídias, nos eventos setorizados e outras possibilidades, viabilizando a promoção destes livros.

Acreditamos que a livraria superespecializada é viável, pois é possível ter várias frentes temáticas compartilhando uma única estrutura tecnológica, gerencial e de logística.

Considerações finais

Acreditamos que esse movimento é possível de acontecer a partir dos players menores e mais frágeis para os maiores e mais fortes. Essas rupturas terão a capacidade de tornar grupos de empresas mais fortes e competitivas, porém, como criará novas forças neste mercado, os grandes players que forem capazes de enxergar este movimento também se inserirão nele. Isso poderá ser benéfico a todos.

As empresas que queiram se inserir neste movimento deverão estar abertas à inovação e à colaboração. Novas tecnologias e dinâmicas serão utilizadas. Dentre estas novas dinâmicas, será necessário compartilhar informações entres os demais agentes do mercado.

Para acontecer, teremos de iniciar. O lucro não deve ser o objetivo, e sim a consequência.

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